Transplante de testículos de macacos em seres humanos

O desenvolvimento de transplante cirúrgico de orgãos em humanos sempre será um importante avanço nas ciências médicas, e os cientistas pioneiros serão sempre considerados brilhantes e inovativos. Bem, a maioria deles. Um em particular, um cirurgião de nome Serge Voronoff, viverá no limbo médico por realizar transplantes – na época (final do século XIX) considerados geniais – que iriam levá-lo ao total descrédito. Adicionando à intriga o fato que o cirurgião foi estudante de Alexis Carrel, ganhador do Prêmio Nobel e de quem ele aprendeu as técnicas de transplante. Os objetivos das cirurgias de Voronoff eram o rejuvenecimento e iniciou com seu interesse por eunucos e castração.
voronoff cirurgia
A hipótese de Voronoff era: hormônios, como a testosterona produzida pelos testículos, poderiam reverter o processo de envelhecimento. Em um de seus primeiros experimentos ele próprio foi a cobaia. Ele injetou masserado de testículos de cachorro e porquinho-da-índia sobre sua própria pele, mas ficou desapontado quando não resultou em nenhum efeito verificável. Ele deduziu que partes vivas de tecido de testículo teriam mais efeito em um rejuvenecimento mais dramático e duradouro.

Isso levou à cirurgias de transplante de glândulas entre espécies. Seus primeiros experimentos envolveram tecidos de tireóide em humanos com deficiência em hormônios produzidos por essa glândula. Ele também iniciou o transplante de testículos de criminosos executados em ricaços (como tratamento para senilidade e esquizofrenia), mas teve que parar quando a demanda para o procedimento excedeu o suprimento de testículos de criminosos. Neste ponto Voronoff começou a usar testículos de macaco, e seu primeiro transplante para humanos foi realizado em junho de 1920.
voronoff foto
“Eu arrisco afirmar,” ele escreveu, “que o macaco é superior ao homem pelo vigor de seu corpo, a qualidade dos orgãos, e pela ausência de efeitos hereditários e adquiridos, dos quais a principal parte da humanidade é acometida.”

Uma fina fatia do testículo seria inserida no escroto do receptor com a esperança que aconteceria uma fusão com o tecido pré-existente. Essa abordagem… hram… inovadora foi aplaudida por centenas de cirurgiões no International Congress of Surgeons em Londres em 1923. Seu trabalho também envolveu transplante de ovários de macaco em mulheres. Ele foi ainda mais longe e transplantou um ovário humano em uma macaca, e então tentou inseminar com esperma humano. Sem sucesso. Voronoff conduziu vários experimento de transplante em mesma espécie: mais de 500 transplantes em ovelhas, cabras e um touro. Estes envolveram enxertos de tecido de testículo de animais mais jovens para animais mais velhos, para medir se existia rejuvenecimento e renovação de vigor. Seus resultados eram mostrados em dramáticas imagens de antes e depois para um revigoramento, e foram publicadas em periódicos respeitados, como o Lancet e a Scientific American.

Os efeitos sugeridos nesta cirurgia de testículo de macaco eram amplos, desde uma melhora no impulso sexual até a cura de uma miríade de desordens mentais. Até a Grande Depressão mais de 500 homens teriam recebido a terapia de Voronoff, com uma demanda tão grande que ele teve que montar sua própria criação de macacos. Contudo após décadas de promessas, e centenas de pacientes, foi se tornando claro que o tratamento não resultava em nenhum efeito positivo que Voronoff prometia. De fato alguns pacientes tiveram grandes complicações, infecções, choque circulatório, etc.
Além disso, a testosterona foi finalmente isolada como um hormônio secretado pelos testículos, e portanto o objetivo químico dos transplantes de Voronoff foi encontrado. Mas quando a testosterona foi injetada em animais, com a esperança de Voronoff de que eles ficariam mais fortes e viris, isto na verdade não aconteceu, e também não ocorreu nenhum rejuvenecimentou ou prolongamento da vida. Um crítico feroz, o cirurgião britânico Dr. Kenneth Walker, definiu o tratamento de Voronoff como “não melhor que os métodos de bruxas e mágicos.”

Isto foi devastador para a reputação de Voronoff e sua carreira. Sua clínica passou por dificuldades e desapareceu, bem como todo o respeito pelos seus métodos. Ele morreu em relativo anonimato, embora recentemente uma percepção negativa de seu trabalho diminuiu um pouco. Mas existe uma hipótese perturbadora de que o vírus da AIDS entrou na população humana por meio dos procedimentos de transplante de Voronoff.

Décadas mais tarde, David Hamilton publicou um livro “The Monkey Gland Affair” que essencialmente desmistificava os transplantes explicando que o tecido de outras espécies seria rejeitado, não absorvido, e na melhor das hipóteses resultaria em uma cicatriz. Qualquer (raro) benefício visto nos receptores dos transplantes seria devido ao efeito placebo.

Fontes e mais informação:
Sharon Romm. 1983. Rejuvenation Revisited. Aesthetic Plastic Surgery. doi 10.1007/BF01570668

http://en.wikipedia.org/wiki/Serge_Voronoff
Artigo na revista TIME, em 1923.

Artigo original em
http://scienceblogs.com/retrospectacle/2007/06/science_vault_monkey_to_human.php

(traduzido e adaptado com permissão)

Original (English) content from Retrospectacle (http://scienceblogs.com/retrospectacle/). Content translated with permission, but portuguese text not reviewed by the original author. Please do not distribute beyond this site without permission from both author and translator.

19 comentários

  1. zinhoflag1 jun 21, 2007
  2. Rick jun 21, 2007
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  4. bismar lu9iz jul 8, 2007
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  8. J.Schippa out 5, 2007
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    • wilson maio 8, 2017
  18. wilson maio 8, 2017

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