Brometo de chumbo (um chumbo volátil?)

Motores a diesel e gasolina operam usando diferentes filosofias. Em um motor a gasolina, uma faísca faz a ignição da mistura comprimida de ar-combustível; no motor a diesel o ar é comprimido e fica muito quente, e então o combustível é injetado, resultando na ignição.

No caso da gasolina a energia de ativação para se iniciar o fogo é fornecida pela faísca de alta energia. Com o diesel, o calor da compressão deve ser suficiente para iniciar o fogo. Por esta razão, a gasolina tem um um “índice de octanagem” (uma medida do quão difícil é a ignição) e o diesel tem um “índice de cetanagem” (uma medida de quão fácil é a ignição). Uma gasolina de baixa octanagem pode queimar de forma desigual e explodir quando comprimida, resultando em “batida de pino” e danos no motor. Um diesel com baixa cetanagem pode resultar em dificuldade em ligar o seu caminhão.

Para aumentar a cetanagem uma estratégia comum é colocar algum oxidante. O lado ruim disso é que você tem um oxidante no combustível que pode resultar na formação de um polímero ou goma. Para aumentar a octanagem você precisará de um ingrediente que deixe o processo de combustão mais lento (isto é, aumente a energia de ativação).

Por um longo tempo, significava usar tetraetil chumbo:
estrutura quimica do tetraetil

Os compostos radicais produzidos na combustão do tetraetil chumbo desaceleravam a combustão. Para evitar depósitos de chumbo nos motores o dibromoetano e o dicloroetano foram usados:
representação da molécula

Isto tinha como resultado a formação dos compostos gasosos com chumbo, PbCl2 e PbBr2. Se isso tudo já soa perverso, você ficará impressionado em saber que Thomas Midgley, que foi o pioneiro no tetraetil chumbo, também foi o pioneiro nos CFCs.

Não demorou muito até um jovem química chamado Clair Patterson notar que estávamos largando uma terrível quantidade de chumbo no ar. Patterson percebeu isso quando estava tentando monitorar isótopos de chumbo em rochas antigas para determinar a idade da Terra. Mais tarde ele conseguiu contornar o problema e determinou a idade da terra com três casas de precisão, em um dado que permaneceu por mais de cinco décadas.

O chumbo o incomodava, e ele passou as décadas seguintes lutando para que o tetraetil chumbo fosse removido da gasolina. Os lobistas do aditivo passaram um bom tempo tentando desacreditar Patterson, e Midgley aparecia em programas tentando assegurar aos jornalistas que o tetraetil chumbo era seguro. Em um trecho do livro de Bill Bryson ‘Uma breve história de quase tudo’:

Com a circulação de boatos sobre os perigos do novo produto, o entusiasmado inventor do tetraetil, Thomas Midgley, decidiu realizar uma demonstração aos repórteres para desfazer as preocupações. Enquanto discorria sobre o compromisso da empresa com a segurança, despejou tetraetil chumbo nas mãos e, em seguida, segurou uma proveta com o produto sob o nariz por sessenta segundos, garantindo que poderia repetir o procedimento todos os dias sem perigo. Na verdade, Midgley conhecia perfeitamente os riscos do envenenamento por chumbo: ele próprio adoecera gravemente devido à superexposição, alguns meses antes, e, exceto na demonstração aos jornalistas, evitava na medida do possível o contato com a substância.

Uma dedicação que faria empresas de tabaco orgulhosas.

Patterson estaria atualmente com 92 anos.

Original (English) content from Molecule of the Day (http://scienceblogs.com/moleculeoftheday). Content translated with permission, but portuguese text not reviewed by the original author. Please do not distribute beyond this site without permission from both author and translator.

Original em ‘Molecule of the day’

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